terça-feira, 8 de abril de 2008

Clarice Lispector

Quem me conhece, sabe o quanto leio e devoro tudo que é de Clarice.
Para mim, ela é única. Releio seus textos quase diariamente.
E como me incluo em tantos de seus pensamentos! Por mais que soe pedante, é a pura verdade.

Como estamos falando nos últimos posts sobre nos descrever, dizer quem somos, pensei logo em Clarice. Acho que uma das coisas que mais amo é a forma como ela se descreve, descreve o ser humano, descreve nossas transformações, nossas inquietudes, nossa condição de mutáveis ao tempo, às circuntâncias....
Não é à toa, que meu perfil do Orkut é um trecho dela.

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que digo."


"Nada que existe escapa à transfiguração, não saberei que existi daqui a poucos anos.
Fez-se muitas perguntas mas nunca pode responder: parava para sentir.
A tragédia moderna é a procura vã de adaptação do homem ao estado de coisas que ele criou.
Eu me sinto tão dentro do mundo que me parece não estar pensando, mas usando de uma nova modalidade de respirar
Não é o grau que separa a inteligência do gênio, mas a qualidade.
Que façam harpas de meus nervos quando eu morrer.... a vida sempre nos deixa intocados.
Conto apenas o que vi, não o que vejo (não sei repetir)
Lalande - lágrimas de anjo. É o mar, que nenhumm olhar ainda viu. A beleza das palavras, natureza abstrata de Deus, essa tristeza leve é a constatação de viver.
Meu filho crescerá de minha força e me esmagará com sua vida. Posso parir um filho e nada sei
(...) Compreende a vida porque não é suficientemente inteligente para não compreendê-la!"


e a melhor...
"“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro…há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu…Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma”

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